FLOR DESPETALADA

Duas horas da madrugada,
O espelho em minha frente,
Eu, silente, contemplo,
Uma flor despetalada,
Uma alma cismada,
Comigo, consigo, com o tempo,
Eu, inquieta, ausente,
Do sono, dos sonhos,
Me encaro, me descomponho,
Despenteio o cabelo,
Desatino o cerebelo,
Quebro o silêncio com um brado,
Maldigo a fada madrinha,
Lastimo o meu estado,
Pobre de mim! frágil nuvem ,
Acreditei no amor,
Me doei, compartilhei vida,
Me vi movida por,
Doces esperanças.
Pobre de mim! Inocente,
Me perdi na estranha andança,
Na neófita confiança,
Amei em vão, não fui amada,
Tão usada somente.
Duas horas da madrugada
E mais alguns minutos,
Eu; aqui sozinha,
Sem nuança,
Sem nenhuma coragem,
Um quadro de enfado absoluto,
Eu, ante a invertida imagem,
Decepcionada, envelhecida,
Submetida à sombra do nada.