O verso fez-se prosa e caiu sobre nós...
A poesia serve para dizer que a poesia serve para dizer.
A guerra serve para quê?
Cai a bomba na cidade, mais uma e mais outra.
Parece mais fácil daqui, vendo a imagem à distância,
Sem comprometimento...
A imagem tem uma beleza plástica elaborada,
Luz e cor balanceadas e o melhor foco obtido,
Para mostrar que a bomba de fato explode,
Para trazer a guerra para dentro das nossas salas,
Só que nunca dentro das nossas consciências,
Esse torpor anestesiológico é que nos fode...
A rua vira escombros
As casas caem em escombros
Os postes e os prédios nos escombros
A cidade em ruínas só escombros
No meio de escombros, coisa nenhuma
Que poesia podemos tirar dos escombros?
Já tive meu olhar em ruínas
E fiz rescaldo nos escombros
De meu coração destruído,
Mas nada que se compare a isto.
Chega! Não quero mais falar disso.
Não queremos, não é mesmo?
Somos intelectuais que andam a esmo
Perdidos nos labirintos do si mesmo.
Só as pessoas normais é que amam,
Os intelectuais sempre se enganam.
E sempre são aqueles que mais enganam.
De novo outra bomba, ali, parece perto.
Decerto essa proximidade explica o desconforto
De tudo isto que tentamos manter à distância.
Mas mesmo assim se aproxima no medo,
No assombro de tudo parecer tão ali na esquina
Ou mais perto ainda, bem aqui dentro do peito.
É só uma foto...
E é um fato feito que não pode mais ser desfeito.
Para que servem as fotos?
Para eternizar o momento que esqueci?
Ou para recuperar o momento que não vivi?
A foto não é o fato,
Mas é a estátua do fato insistente,
Que insiste tanto até se tornar existente.
Para que serve a realidade senão para justificar o sonho?
A realidade é o avesso do que em sonho eu sonho que sonho,
Essa desgraça sem tamanho que a gente olha e vê
E depois vai tomar um café e esquece.
Ainda bem que temos a solidariedade de vez em quando,
Para de vez em quando disfarçar esse frio esquecimento,
Para aplacar a dor no peito e o peso na consciência.
Que dor? Que peso? Que consciência? A solidariedade de vez em quando...
Basta umas peças de roupa, uns quilos de alimento, um pouco de dinheiro.
Eu vou lhes dizer, porque vocês não sabem, ainda não perceberam,
a poesia que eu tinha não tenho mais,
a poesia que eu queria não me acompanha mais,
a poesia que eu vivia eu não encontro mais.
Por isso peço que me perdoem o horror desses poemas.
Na Europa entre guerras inventaram o cubismo.
O baque surdo da bomba que cai é como uma queda no abismo.
O que nos salva é o cubismo de Picasso e Braque reinventado,
Mas eu desde muito novo sempre preferi o surrealismo,
Onde eu reinvento cada pobre sonho que eu nunca vivo.
E até agora eu não sei exatamente o que quis dizer com isso,
Do mesmo modo que não entendi a primeira vez que vi
“Les Demoiselles d’Avignon sorrindo para mim.
E tem coisas que só entendi quando vi “Guernica”,
E quando vi, “Guernica” nunca mais saiu da minha vida.
Mas eu nunca entendi uma guerra,
Espetáculo tenebroso de estrondos e fumaça
Que anuncia a transformação de tudo o que se ergue
Numa tétrica escultura de escombros feita de escombros,
Que prenuncia a transformação de tudo o que respira em assombros.
Não sei onde é que aprendi a gostar da palavra escombros.
Não sei onde é que precisei sempre estar atento aos assombros.
Eu vejo em sonhos que não sonho; e são pesadelos
Os olhos parados da criança fitando a mãe que chora,
O pai abalado embalando um berço quebrado,
Os relógios quebrados nas torres marcando qualquer hora.
E muitas vezes a gente até consegue dar de ombros,
Até que dos escombros aponta um pequenino pé
Que a gente não sabe se vivo ou se morto.
Estranho. Sempre foi para mim muito estranho
Tamanho desenvolvimento científico e tecnológico
Para o desenvolvimento da indústria de armamento.
Penso no outrora de nossa tão pequena história,
Na pedra lascada e polida, que com um pouco de lida
É entendida amarrada na ponta de um pedaço de pau,
No momento solene em que o “homo erectus” se lança
Galgando seus degraus rumo ao “homo sapiens”,
Armado da arma com que inventa e reinventa o mal,
Combustível de todas as guerras.
Coisa tão banal...
Quanto à interpretação dessa banalidade.
Estes filhos da terra são donos da terra porque deus lhes deu.
Aqueles filhos da terra também são donos da terra porque deus lhes deu.
E por causa da terra que deus lhes deu
Estes filhos da terra fazem a guerra com aqueles filhos da terra,
Financiada pelos filhos da puta,
Os filhos da puta que são donos dos filhos da terra
A poesia serve para dizer que a poesia serve para dizer.
A guerra serve para quê?
Cai a bomba na cidade, mais uma e mais outra.
Parece mais fácil daqui, vendo a imagem à distância,
Sem comprometimento...
A imagem tem uma beleza plástica elaborada,
Luz e cor balanceadas e o melhor foco obtido,
Para mostrar que a bomba de fato explode,
Para trazer a guerra para dentro das nossas salas,
Só que nunca dentro das nossas consciências,
Esse torpor anestesiológico é que nos fode...
A rua vira escombros
As casas caem em escombros
Os postes e os prédios nos escombros
A cidade em ruínas só escombros
No meio de escombros, coisa nenhuma
Que poesia podemos tirar dos escombros?
Já tive meu olhar em ruínas
E fiz rescaldo nos escombros
De meu coração destruído,
Mas nada que se compare a isto.
Chega! Não quero mais falar disso.
Não queremos, não é mesmo?
Somos intelectuais que andam a esmo
Perdidos nos labirintos do si mesmo.
Só as pessoas normais é que amam,
Os intelectuais sempre se enganam.
E sempre são aqueles que mais enganam.
De novo outra bomba, ali, parece perto.
Decerto essa proximidade explica o desconforto
De tudo isto que tentamos manter à distância.
Mas mesmo assim se aproxima no medo,
No assombro de tudo parecer tão ali na esquina
Ou mais perto ainda, bem aqui dentro do peito.
É só uma foto...
E é um fato feito que não pode mais ser desfeito.
Para que servem as fotos?
Para eternizar o momento que esqueci?
Ou para recuperar o momento que não vivi?
A foto não é o fato,
Mas é a estátua do fato insistente,
Que insiste tanto até se tornar existente.
Para que serve a realidade senão para justificar o sonho?
A realidade é o avesso do que em sonho eu sonho que sonho,
Essa desgraça sem tamanho que a gente olha e vê
E depois vai tomar um café e esquece.
Ainda bem que temos a solidariedade de vez em quando,
Para de vez em quando disfarçar esse frio esquecimento,
Para aplacar a dor no peito e o peso na consciência.
Que dor? Que peso? Que consciência? A solidariedade de vez em quando...
Basta umas peças de roupa, uns quilos de alimento, um pouco de dinheiro.
Eu vou lhes dizer, porque vocês não sabem, ainda não perceberam,
a poesia que eu tinha não tenho mais,
a poesia que eu queria não me acompanha mais,
a poesia que eu vivia eu não encontro mais.
Por isso peço que me perdoem o horror desses poemas.
Na Europa entre guerras inventaram o cubismo.
O baque surdo da bomba que cai é como uma queda no abismo.
O que nos salva é o cubismo de Picasso e Braque reinventado,
Mas eu desde muito novo sempre preferi o surrealismo,
Onde eu reinvento cada pobre sonho que eu nunca vivo.
E até agora eu não sei exatamente o que quis dizer com isso,
Do mesmo modo que não entendi a primeira vez que vi
“Les Demoiselles d’Avignon sorrindo para mim.
E tem coisas que só entendi quando vi “Guernica”,
E quando vi, “Guernica” nunca mais saiu da minha vida.
Mas eu nunca entendi uma guerra,
Espetáculo tenebroso de estrondos e fumaça
Que anuncia a transformação de tudo o que se ergue
Numa tétrica escultura de escombros feita de escombros,
Que prenuncia a transformação de tudo o que respira em assombros.
Não sei onde é que aprendi a gostar da palavra escombros.
Não sei onde é que precisei sempre estar atento aos assombros.
Eu vejo em sonhos que não sonho; e são pesadelos
Os olhos parados da criança fitando a mãe que chora,
O pai abalado embalando um berço quebrado,
Os relógios quebrados nas torres marcando qualquer hora.
E muitas vezes a gente até consegue dar de ombros,
Até que dos escombros aponta um pequenino pé
Que a gente não sabe se vivo ou se morto.
Estranho. Sempre foi para mim muito estranho
Tamanho desenvolvimento científico e tecnológico
Para o desenvolvimento da indústria de armamento.
Penso no outrora de nossa tão pequena história,
Na pedra lascada e polida, que com um pouco de lida
É entendida amarrada na ponta de um pedaço de pau,
No momento solene em que o “homo erectus” se lança
Galgando seus degraus rumo ao “homo sapiens”,
Armado da arma com que inventa e reinventa o mal,
Combustível de todas as guerras.
Coisa tão banal...
Quanto à interpretação dessa banalidade.
Estes filhos da terra são donos da terra porque deus lhes deu.
Aqueles filhos da terra também são donos da terra porque deus lhes deu.
E por causa da terra que deus lhes deu
Estes filhos da terra fazem a guerra com aqueles filhos da terra,
Financiada pelos filhos da puta,
Os filhos da puta que são donos dos filhos da terra