POEMA PARA MEU IRMÃO MORTO
Foi-se a vida
A carne apodrecida
Lacrimeja um rosto
(Mesmo que não seja agosto)
Teus olhos viram essa rua
E a prata da lua
Tua voz cantou uma utopia
(A beleza incorporou-se a ti nesse dia)
Agora
A saudade é uma imensa podridão
Dizendo que a realidade é maior
Que azul é essa solidão
Que conformar-se é melhor
Cada morto tem uma história
E na memória
De quem fica retorna a vida
Linda e engrandecida
Pessoas obrigadas à hipocrisia
Abrem para o morto um caminho de esperança
Mas o morto dispensa a liturgia
A lembrança
E ri dos vivos
Que, angustiados,
Não encontram respostas para tantas perguntas.