Canto triste!


Abra, tristeza,
As grades que te prendem
ao meu coração.
Arranca, tristeza,
A sombra que tolhe meus passos
E me instiga ao cansaço
Porque me falta esse chão!

Não enganas a ninguém, tristeza!
Mostra a tua face disforme,
Mostra ao mundo inteiro que dorme
As chagas de meu coração...
E por favor não me prenda
Nos laços da solidão!

Leva para bem distante,
Ao menos por um instante
Esse frio que me gela a alma!
Retira esse negro véu
Que cobre o meu rosto,
Escondendo o meu desgosto
E dilacerando minh’alma!

Os passos perdidos no tempo
Os gritos, o sentido lamento
Apaga do meu caminho...
As horas breves
De felicidade que eu vivi
Recolhe nesse cálice
Amargo em que eu bebi!

E enxuga minhas lágrimas
Em sua alcova de dor.
Transforma-as em pétalas mortas
Cruel morte de uma flor!

Oh! Vai-te tristeza,
Não deixas que essa noite
Eu chore mais uma vez!
Leva esta tortura, o açoite
A minha mágoa, esta angústia,
Vai-te, tristeza, de vez!

Deixa-me hoje, tristeza,
Chorar quieta e sozinha
Na solidão que é só minha
Enquanto esta chama é acesa!

E, amanhã, quando alguém
Me perguntar da saudade
Dos amores e amizades
Eu seguirei mentindo
Mesmo chorando... sorrindo!

Mas nesse momento, agora
Eu te suplico outra vez
Me deixa só com meu pranto
Perdida no desencanto
Vai-te, tristeza, embora!
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