COM OS OLHOS BEM ABERTOS


Houve um tempo,
Em que eu quis,
Procurar um novo habitat;
Longe da política e dos políticos,
Longe do olhar desesperançado da criança,
Das mãos estendidas dos mendigos,
Longe de qualquer sombra de miséria,
Longe das polícias e dos ladrões,
Das polícias que são piores que ladrões,
Longe do massacre do capitalismo,
Longe de todos os fanatismos,
Longe da eletricidade,
Que iluminam as cidades de concretos,
Longe da globalização,
Que despeja tantas informações,
Sobre a minha cabeça;
E ela quase pira.
Houve um tempo,
Que realmente eu quis habitar,
Em um outro lugar;
Um lugar só meu,
Quem sabe uma ilha?
Onde eu seria uma espécie
De Robson Crusoé,
Distante do desamor,
De toda vento de nostalgia,
Distante de todas as intempéries,
Distante dessa vontade tola,
De querer mudar o mundo,
Desse espírito mentecapto,
Distante desse sentimento de frustração,
Desse vão que me separa da capacidade.
Houve sim, um tempo;
Em que almejei um habitat,
Tão límpido como o sol do meio dia.
Todavia, continuo habitando em mim;
No meu habitat de angustias,
Enquanto lá fora,
As diversas faces de um mundo vil,
Aguardam-me com os olhos bem abertos.