A MALDIÇÃO
A MALDIÇÃO
Carmo Vasconcelos
Era uma peça antiga, de subtil beleza,
Inda luziam irisados nos seus tons,
Mas só aquele que a olhasse em profundeza,
Podia vislumbrar seus preciosos dons.
Não era fácil desvendar com nitidez
O traço, a era, a escola a que pertencia,
Amálgama de estilos era seu jaez,
Num corpo de mulher, um' alma de utopia.
Porém, a par do misterioso encantamento,
Pesava nela uma lei de condenado...
Mais verosímil do que mero embruxamento,
Provável carma d’ex-pecado insaldado.
Todos a desejavam pla sua perfeição,
Gozar da sua posse era a ânsia exibida,
Mas por castigo ou por danada maldição,
De pronto a abandonavam após conseguida.
E da peça... amargas lágrimas tombavam,
Prantos esses que de pátina a recobriam,
E enquanto à vista plúmbeos veios alastravam,
Argênteos dotes do seu íntimo emergiam.
Até que um dia, um velho sábio lhe ditou:
- Cala o pranto inútil que a alma t’arrefeça!
Nenhuma maldição a vida te instilou...
Só não baixou ainda o ser que te mereça!
***
Lisboa/Portugal
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