Cores: bege melancólico
E de todas as noites, penso que deveria haver outra diferente.
Outra que fosse menos matante, menos doída, menos horrenda.
Essa estava me consumindo aos poucos sem eu saber.
E o pior é que eu queria ser igual a ela, escura e paralisada.
Era notável que esses fragmentos escaldantes quisessem morar em mim.
Lágrimas internas se faziam presentes, e eu as escondia.
Como eu podia sentir tanta sombra sem saber compreender o que era?
Se o mundo acabasse naquele instante, eu nem sentiria.
Pois, havia uma dormência nos meus sentidos, como poderia sentir?
Eu não conseguia visualizar nem o cinza, quanto mais uma cor viva.
E uma sensação estranha se alastrava toda dentro de mim.
Eu me sentia melancólica ao quadrado, ao quíntuplo, não sabia mais.
Qualquer barulho me deixava em estado de alerta, atenta.
Qualquer lembrança deixava-me em estado quase deprimente.
Nem Debussy me fazia querer ser transcendental.
Eu estava em estado mórbido, destrutivo, entorpecido.
Deixe-me ser guiada por aquele momento bege.
Meu paladar não definia nenhum sabor.
Meu olfato estava impossibilitado de sentir a fragrância das flores.
Meu tato sentia o frio, o gelado, o duro e o vazio.
Tal qual meu coração quebrado pela surra de vozes negativas.
A voz não saía, e nada mais saía de mim.
A vontade que eu tinha era de me fechar num quarto.
E nunca mais sair de lá!
Nunca mais ter contato com a imoralidade.
Talvez, eu não me machucasse mais por um tempo.
Ficando só comigo, mas e depois?
Depois voltaria tudo à tona, e eu teria que resolver.
O problema nunca esteve fora e sim dentro.
Essa melancolia parecia ter se fortificado e criado raízes.
Eu não sentia medo nenhum, só vontade de me isolar.
Até que aquele momento enfermiço passasse.
A noite então comentou meu estado e,
me vendo perdida na sua mesma escuridão, disse:
- Não irás ser igual à mim, eu sou eterna, você é passageira, acorde!
Levei um choque. Estremeci. Chorei. Respondi em pensamento.
"Eu não me deixarei ir tão fundo novamente. Não desse jeito".