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Nanquim


Pintaram de negro as tuas memórias,
Encerraram-nas todas em caixas herméticas
Para que fosses esquecida.

As tuas flores,
Todas elas espalhadas pela vida,
Murcham, separadas,
Em jardins secos e mal cuidados.

Pintaram de negro as tuas obras,
Os teus sonhos são vidros de nanquim
-Nada mais resta de ti, é o fim,
Daqueles sorrisos nas fotografias.

Pois hoje, caminhas por uma estrada 
De uma só via, asfalto negro
Por onde nada volta!

O vento que sopra não traz teu perfume,
Apaga-se, aos poucos, o resto de lume
Que te animava.
As tuas feições, já quase esquecidas,
Somem das fotografias...

E os laços que ataste com todo carinho,
Desmancham-se, cortados por espinhos
Que o egoísmo fez crescer.

Pintaram de negro a tua história,
E nesse mar negro, afogam-se tuas palavras,
A voz calada, a garganta em borbulhos,
Teus olhos fechados, 

Tua vida?...

Ao menos tens o dom de ser esquecida,
A dor do viver já não te alcança...
És hoje uma longa e negra trança
Que pouco a pouco, se desmancha...



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Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 27/03/2014
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