Nanquim
Pintaram de negro as tuas memórias,
Encerraram-nas todas em caixas herméticas
Para que fosses esquecida.
As tuas flores,
Todas elas espalhadas pela vida,
Murcham, separadas,
Em jardins secos e mal cuidados.
Pintaram de negro as tuas obras,
Os teus sonhos são vidros de nanquim
-Nada mais resta de ti, é o fim,
Daqueles sorrisos nas fotografias.
Pois hoje, caminhas por uma estrada
De uma só via, asfalto negro
Por onde nada volta!
O vento que sopra não traz teu perfume,
Apaga-se, aos poucos, o resto de lume
Que te animava.
As tuas feições, já quase esquecidas,
Somem das fotografias...
E os laços que ataste com todo carinho,
Desmancham-se, cortados por espinhos
Que o egoísmo fez crescer.
Pintaram de negro a tua história,
E nesse mar negro, afogam-se tuas palavras,
A voz calada, a garganta em borbulhos,
Teus olhos fechados,
Tua vida?...
Ao menos tens o dom de ser esquecida,
A dor do viver já não te alcança...
És hoje uma longa e negra trança
Que pouco a pouco, se desmancha...