Primeira Pessoa do Singular
Há quem diga que sou descrente.
Há quem diga que me tornei um.
Tem quem finja que não sou doente.
Tem quem minta em lugar nenhum.
Bem, começo com rimas
Mas não sei se terminará assim.
Não quero essas linhas uma obra prima.
Apenas uma nota pra mim.
Não perdi minha fé em Deus.
Sinto sua ação, ora sim ora não
Sei que nem todos os problemas são dele, são meus
Mas ainda o sinto segurando minha mão.
Perdi a fé nas pessoas.
Isso é um fato.
A fé e a esperança de resgate.
Afinal, como resgatar quem não quer ser resgatado?
Para o mundo real
Para a vida de fato
Mas a felicidade é um fardo
Um conforto infernal.
Conheci a mentira e a doença
Em corações que pensei lindos jardins
Se mostraram um poço de maldade e descrença
Que me assusta em coisas afins.
Descobri a insensibilidade em corações pregadores.
Lindos e invejados.
Mas que não sabe ser humano
Que não conhece o perdão.
Volto pra casa, e caio num buraco negro.
A cada segundo, um vazio no peito.
Uma parte retirada do mundo
Um pedaço do meu mundo que quis ir embora.
Talvez porque nunca me amou de fato
Ou nunca amou seres humanos.
Segue apenas um ritual mostrado num manual de instruções
Organizados em livros, capítulos e versículos.
Perdi a fé sim
Não em Deus
Mas nas pessoas que ele criou
Não vejo sua imagem e semelhança nelas
Se pessoas assim são a imagem e semelhança de Deus
Passo a ter medo do que Deus possa ser capaz de fazer
Comigo, com os outros...
Com o mundo.
As vezes fico pensando se
O que as pessoas religiosas fazem
E pregam
Realmente são de coração.
Fico horrorizado quando vejo que, na maioria das vezes,
As palavras bonitas e boas ações não são por humanidade,
Consideração, compaixão,
Mas sim, uma forma de promoção.
Fico aterrorizado quando vejo a insensibilidade mora
No coração de pessoas que pregam filosofias de amor e boas ações.
Conhecemos pessoas assim
Pelo número frequente de frases contraditórias.
Fico com vontade de vomitar ao ver pessoas pregando humildade
E que não pedem perdão pois não entendem o lado do outro.
A falta de humanidade é notada quando
Achamos pessoas que não conseguem se colocar no lugar do próximo
Alteridade é repetida mil e uma vezes pelos mil e uns sacerdotes por aí.
O embrulho no estômago vem quando vejo pessoas moldadas
Pelas regras religiosas, que fazem coisas para "agradar os outros",
"provar para os outros" o que na verdade não é e nunca será.
Vejo famílias que querem acreditar que se amam
Mas, na verdade, não queriam estar ali -
Mas estão sempre juntos nos bancos da igreja
Mostrando que são uma família relogiosa e feliz.
Disso tudo tiro a conclusão de que não conhecemos ninguém
E que religião não dita caráter de ninguem.
Que humanidade é algo que você carrega consigo,
E que é difícil de absorver na voz de um sacerdote igualmente hipócrita.
Que quando deixarmos de nos preocupar com nós mesmos
E olharmos em volta por querer - não porque mandaram
Vamos nos colocar no lugar do outro e sentir a sua dor.
E aí sim, humanizar. Sem ter que provar ou agradar ninguém.
Ao sentir a dor que causamos no próximo,
Entendemos que temos que perdoar
Mesmo achando que não temos motivo, pois não fizemos nada de errado.
Uma pessoa com caráter de verdade, usa pouco a "primeira pessoa do singular".
Assim, me entristeço.
Perco a vontade de sorrir e levantar da cama
Pois sei que lá fora, irei encontrar maldade de mais
Que meu estômago não é capaz de aguentar.
Assim, perco a fome, o sono e a inspiração
Para trabalhar, criar, escrever, amar... Viver
Pois é difícil achar um ponto verde de esperança
Num mundo mergulhado no negro do vazio.