chuva (monologo de um feijão)
peça teatral em um unico ato
monologo de um feijão
não sou o escolhido
para matar a fome de uma terra morta
luz forte todas as manhas
mesmo que o vento frio do inverno tente ocupar o trono da mãe natureza
não sou o escolhido
mesmo tendo muito ferro
sou um bom amigo para todos os momentos
mas a realidade nua e crua prefere comer caviar
fui jogado fora no momento da compra
que nunca foi comprada
a luz aumenta a dor dos pobres coitados
a fome dos ricos não e igual a fome dos pobres
vejo mortos vivos brigando por um copo de agua
e na cadeira dos homens de terno de linho
o vinho não e amargo
mesmo que a terra seja a mesma terra
mesmo que a agua seja a mesma agua
mesmo que a fome seja a mesma fome
mesmo que deus seja o mesmo deus
e os exus sejam os mesmos exus
e a morte seja a mesma morte
a vida não e a mesma vida
na cidade ou no campo
um tiro na boca pode transformar a agua e sangue
(a luz aumenta e muda de cor)
o vento vai mudar
de um lado para o outro
e cinto que a chuva esta fazendo outra greve
que não tem tempo de terminar
uma criança esta chorando de fome
e mesmo assim não sou o escolhido
na hora da escolha entre os bons e os ruins
a dona de casa sempre comete algum engano
e assim fui jogado no tempo
fui jogado na luz quente
mas a fome não escolhe comida
a fome não escolhe o prato
a fome apenas quer matar algum pobre diabo
(o vento vem suavemente mas a chuva não)
por que fui plantado neste planeta?
quem sabe em marte ou mercurio eu seria feliz
mas não
fui plantado na terra morta
e fui jogado fora como uma criança carente
agora vejo o tempo passar
como uma pedra no semiterio
como um anjo feito de argila
(a luz muda de cor novamente)
agora vejo
que nada e igual neste mundo
o verdadeiro alimento
custa muitos dolares e euros
(o vento aumenta e leva as folhas para os ares,luz apaga)
fim