Cai a tarde
Vertical e vermelha

Cai a tarde
ao peso da gravidade
das almas.

O bálsamo escorrega
no ralo da miséria
explícita.

O vento traz mensagens
cifradas.
Uiva dores inconscientes.
Corta em pedaços
hombridades

Verticalmente o sol morre
descendo horizonte calado,
queimando memórias 
das redondezas.

Geometricamente os raios
tornam-se finitos e tocam
a terra em difusão
sanguínea.

Loucura é essa vontade
de morrer junto com o sol.
Descer aos umbrais do tempo.
Desistir de lutar.
Entregar o corpo, as armas e
o grito.

Espreitar-se quieta
Encolhida em posição fetal.
Prostrada em silêncio  ritual

E com olhos acompanhar
o rubro amainando,
violetando-se lentamente
até sumir ante a 
escuridão fatal da noite.

Some o dia.
Riscado de carmim.
Resta a iluminação difusa da rua.
A visão é mais imaginária 
do que percebida.

Cai a tarde.
Cai a depressão sobre mim.
A lei da gravidade não é justa.
Ou só nos ajusta ao fim.
Customizemo-nos.
 
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 18/03/2014
Reeditado em 28/03/2014
Código do texto: T4733847
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