Colheita
Planto rosas,
Colho dores,
Rego espinhos,
Semeio amores.
Lapido em pedras pálidas, meu cansaço
Jorra em fonte seca, minha lástima
Brota em terra morta, minha inglória.
E nas pétalas de uma rosa murcha toma vida... a injúria.
Planto rosas,
Colho dores,
Rego espinhos,
Enterro amores.
Desprendo do peito o açoite do desejo
Em tela viva rabisco a vida
Preto, sangue e cinza.
Prego estacas,
Apago velas,
Derramo cálices,
Desdenho rezas.
Arranco lembranças de memórias mortas
Lastimo as perdas falhas,
Saboreio vitórias amargas,
E sobre o véu da vida perdida em batalhas escarças
Ovaciono as trapaças.
Planto vida,
Colho velas,
Rego risos,
Enterro aquilo que me resta.
Crucifico a vida que me dares
Sangrando na cruz da incerteza
Revivo as horas que me baste.
Plantei sonhos,
Colhi pó,
Reguei a conjunção,
Enterrei-me... só.