POEMA MELANCÓLICO

POEMA MELANCÓLICO

Quando a enjeitada em minha casa chegar

E no campo santo meu cortejo apontar

Meu corpo solenemente adentrar

Em minha derradeira morada hei de ficar.

E na singela capela daquele bendito lugar

O velho campanário de cobre tocar

O meu último hino irá entoar

Pelo assovio agourento do corvo solar.

Que o canto triste do urutau faz lembrar

As aves de rapina daquele lugar

Num harmonioso bailado vão se apresentar

Na forma de um adeus irão voar

Farão alguns voos rasantes

Sobre os meus restos e dos acompanhantes

O sabiá que estará na mangueira

Entoará seu canto estridente e dorido

Regendo aquele momento tão sofrido

As cigarras agarradas aos caules dos arbustos

Cantando a melodia do final de tarde

Rasgarão seu peito num acorde mágico

O por do sol será acinzentado

Acompanhado por uma fina neblina

A laje fria do sepulcro estará aposta

Formando um quadro nebuloso

Daquele cenário patético

A melancolia irá se encolher de tristeza

Talvez alguém possa me glorificar

Ou até me fazer homenagem fúnebre

A velha beata dirá: vai com Deus

Uma criança perguntará: Ele morreu?

Mas um gaiato há dizer: já vai tarde

Aqui findou toda sua vaidade

Quem me amou lágrimas à cântaro derramará

Mas quem eu amei será que vai chorar

Não sei se do cedro lembrará

Que perfuma o machado a lhe cortar

Ou sentirá remorso por não me fazer feliz

Sobretudo, nos dias que eu mais quis

Que a terra me seja maneira

Posto que não fui ingrato com ela

Salinas, 28 de fevereiro de 2014.

Samuel Alencar da Silva

salencar
Enviado por salencar em 05/03/2014
Código do texto: T4716469
Classificação de conteúdo: seguro