O caos
Eu vejo o caos na esquina
Me espiando pelas arestas da cortina
Eu vejo o caos na cama
E nos lençóis bagunçados da noite anterior
Eu sinto o cheiro do caos
Espalhado pela casa
Misturado com o cheiro de mofo das minhas roupas imundas
Eu vejo o caos no olhar vazio da moça
Que me olha como quem vê a própria morte
Vejo o caos nos meus tênis falante
No meu casaco rasgado
E no meu cabelo rebelde
Nas minhas contas inadimplentes
e na bagunça do meu quarto
Eu vejo o caos na chuva que molha a cidade
e inunda as ruas de tristeza
Eu vejo o caos na poça que sobrou do temporal
e que molha minhas meias e congela meus dedos
Eu vejo o caos, úmido, frio, fétido e inerte
Parado ali do outro lado da rua
Me olhando por entre a cortina
Dia e noite, com um sorriso estridente
Prestes a invadir meu corpo e dilacerar minha alma
Eu então espero esse dia chegar
E sorrio para ele toda manhã
quando atravesso a rua para trabalhar