Choro
Choro
as lágrimas não choradas
as sementes desprezadas
as plantadas que secaram
e as flores que murcharam
choro
para esvaziar o tempo
dar voz à palavra calada
presa na garganta seca
e larga da indiferença
choro
pelos meus versos puros
que brotaram das pedras
topázios em flocos de vidro
jóia falsa no latão
choro
na seiva que se escorre
pelo cascudo do tronco
e se enterra com a raíz
e se perde pelo chão
choro
para escoar o amor
para a ausência dar flor
para dar grito à palavra
enriquecer o poema
choro
para a seiva alimentar
adubar o solo infertil
germinar todos os grãos
brilhar no ouro do anel
choro
pela frieza das pedras
pelos poemas magoados
pelo sentimento trincado
que se recusa morrer...