Lágrima
Nasci das trevas, ranço do borralho,
princesa sem paraíso, luz sem ter visão,
margeio vermes ao cancro da saudade
e - desatino sem fé - soluço ao vento.
Nada tenho de mim no céu escuro,
mas danço, uivo e me degrado estulta,
se em vão destroço dentro da minh'alma
a fonte salgada da secreção sagrada.
Cultivo no peito a dor emurchecida,
perco o viço, o frescor, m'a vida não tem som,
sou beleza em fedor, raiz em sulco denso,
desconheço o pólen, a flor, o fruto e o vento.
Sem amor - que ironia - descambo à beira mar,
amordaço a esperança, zombo do Universo,
à procura de mim danço aos sete véus
e u'a estrela cadente exibo ao meu olhar.
Nefertiti Simaika
Rio de Janeiro, 30 de janeiro de 2014 - 16:25h