ELEGIA DA CAMARADAGEM
A Eusébio da Silva Ferreira
Encontrei-te num fresco dia de primavera
Na pista de tartan onde me fui treinar
Correndo no relvado sempre sem parar
Numa postura alegre de feição sincera.
Corri, então, contigo o meu aquecimento
Preparatório de um duro treinamento.
Disseste-me a sorrir que urgias perder peso
Porque aquele Benfica estava precisado
Que voltasses em pleno para o relvado
Porque já estava a ficar longo o teu defeso.
Eu achei pertinente a tua sugestão
E descobri que tinhas grande coração.
Tu deste voltas e mais voltas e eu também
E trocámos estórias para divertir
Tal era o teu espírito e o teu sorrir
Mesmo sabendo que nem tudo corria bem.
O teu tempo glorioso estava terminando
E a aventura de mim ali iniciando.
Tu eras a “pantera negra” de asas brancas
Tratavas com perícia a bola feiticeira
E eu corria naquela hora à tua beira
Cumprindo para mim iniciativas francas.
Tu, mais que eu, em pertinaz suor sem tréguas
Eu, mais que tu, correndo léguas e mais léguas.
Fomos amigos, colegas e camaradas,
Gostavas de mostrar com toda a humildade
Que em ti morava em genuína qualidade
Um alfobre de virtudes bem armazenadas.
Se a magia da bola esteve nos teus pés
O perfume da fama voou de lés a lés…
Ganhaste um clube, é certo, mas também um povo
Que nem sempre te soube dar a estimação.
Agora, podes crer, a alma da Nação
Teu prestigiado nome gritará de novo:
“Eusébio, Eusébio”! Qual troféu e um tesouro
Tu serás para sempre uma bandeira de ouro!
Frassino Machado
In A MUSA DOS ESTÁDIOS