Convívio

Tem dias que os ossos pesam

e é impossível tirá-los do corpo

e toda tentativa de se jogar ao fogo

é inútil perda de tempo que não volta

Um dia me dobrei perante um rio

tive sede e quis me resgatar em suas águas

meu reflexo tinha se alterado muito

e eu me assustei comigo mesmo

O fato é que eu tinha crescido

não sei se velozmente ou não

mas percebo a falta que me faz

os dias de infância em que eu era feliz

Para remediar tal coisa

conto histórias daquilo que não houve

alegreço mais os outros que a mim

e não há como esconder as lágrimas

Um trem passa por aqui perto

imagino eu que partículas de minh’alma

passa por entre seus vagões de ferro

minha identidade é coisa que se estuda

antes de perceber que não vale muito

Que herói fui eu? Que milagre compus?

em fracassos vários me exponho

para que a noite me devore sem dó

como fazem todos os meus clientes

Quando eu transformar essa minha carne

direi sem que fui livre e louca e pagã

mas antes disso tenho que ser

aquilo que esperam que eu seja

Como dói conviver comigo mesmo!

Ernani Blackheart
Enviado por Ernani Blackheart em 16/12/2013
Código do texto: T4614298
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