Convívio
Tem dias que os ossos pesam
e é impossível tirá-los do corpo
e toda tentativa de se jogar ao fogo
é inútil perda de tempo que não volta
Um dia me dobrei perante um rio
tive sede e quis me resgatar em suas águas
meu reflexo tinha se alterado muito
e eu me assustei comigo mesmo
O fato é que eu tinha crescido
não sei se velozmente ou não
mas percebo a falta que me faz
os dias de infância em que eu era feliz
Para remediar tal coisa
conto histórias daquilo que não houve
alegreço mais os outros que a mim
e não há como esconder as lágrimas
Um trem passa por aqui perto
imagino eu que partículas de minh’alma
passa por entre seus vagões de ferro
minha identidade é coisa que se estuda
antes de perceber que não vale muito
Que herói fui eu? Que milagre compus?
em fracassos vários me exponho
para que a noite me devore sem dó
como fazem todos os meus clientes
Quando eu transformar essa minha carne
direi sem que fui livre e louca e pagã
mas antes disso tenho que ser
aquilo que esperam que eu seja
Como dói conviver comigo mesmo!