Canção à Lua
O sol, ainda que mestre cultuado
Nos dois Egitos, sobre o Nilo, antigamente
E que tendo grandes deuses ao seu lado
Forja a morte na espada reluzente
Ainda que belo, altaneiro e quente, o sol
Qual maestro numa orquestra de planetas
Atraindo, como ao peixe, o anzol
Iludindo as criaturas numa sombra de facetas
Ainda que tudo e mais que tudo a ele se diga
Meu coração se volta mesmo é para a lua
Seu ciclo imenso soa cheio de fadiga
Numa viagem solitária como a sua
Dia após dia muda sempre a sua forma
Ao nosso olhar, que da terra se levanta
Humildemente, a passos tristes cumpre a norma
Num esplendor que qualquer nuvem a suplanta
De seis às seis de um novembro em limpa noite
Que quando é cheia é matriarca de poesia
Surge bela num silêncio de azeite
E se põe débil, sonolenta, quando é dia
Por oito dias sua presença nega à noite
Minguante e nova com o sol durante o dia
Abraço esse parecido a um açoite
Um esplêndido e a outra sem valia
Ainda assim espera estoica sua vez
De caminhar do seu poente ao nascente
A pôr de novo em meio mundo a sua tez
No advento de uma breve unha crescente