O FÓSFORO

Eu sou um fósforo.

Comparação estranha, eu sei.

Nem é romântica,

nem bela,

nem trágica.

É uma comparação cotidiana,

afeita a toda cozinheira,

a todo incendiário.

Apesar de franzino,

não é pela magreza que me comparo ao palito,

mas pela chama que arde,

consumindo tudo que encontra à volta,

num calor de mil graus.

E não é somente pelo calor

que me comparo

ao vulgar objeto.

É que minha chama parte do nada ao êxtase

em um átimo de segundo.

Num piscar impensado de olhos

me ilumino e me acabo.

Com a mesma rapidez que surjo,

consumo meu sustento e morro,

amarelo e azul...

triste.

Mas sou chama que não se esvai

desmotivadamente,

depois de tão curta existência.

Sou chama que se apaga com hora marcada,

porque já cumprido meu destino

de me fazer em outra chama.

Sou assim um fósforo,

desses, que mortos, atiram numa lixeira

e nunca se lembram depois.

Sou um fogo que se transfere

a filhos, netos e a mulheres várias.

Sou um fósforo,

e nada me arranca a ideia

de que me apagarei amanhã.

Edson de Barros
Enviado por Edson de Barros em 10/12/2013
Reeditado em 03/07/2015
Código do texto: T4605784
Classificação de conteúdo: seguro