O FÓSFORO
Eu sou um fósforo.
Comparação estranha, eu sei.
Nem é romântica,
nem bela,
nem trágica.
É uma comparação cotidiana,
afeita a toda cozinheira,
a todo incendiário.
Apesar de franzino,
não é pela magreza que me comparo ao palito,
mas pela chama que arde,
consumindo tudo que encontra à volta,
num calor de mil graus.
E não é somente pelo calor
que me comparo
ao vulgar objeto.
É que minha chama parte do nada ao êxtase
em um átimo de segundo.
Num piscar impensado de olhos
me ilumino e me acabo.
Com a mesma rapidez que surjo,
consumo meu sustento e morro,
amarelo e azul...
triste.
Mas sou chama que não se esvai
desmotivadamente,
depois de tão curta existência.
Sou chama que se apaga com hora marcada,
porque já cumprido meu destino
de me fazer em outra chama.
Sou assim um fósforo,
desses, que mortos, atiram numa lixeira
e nunca se lembram depois.
Sou um fogo que se transfere
a filhos, netos e a mulheres várias.
Sou um fósforo,
e nada me arranca a ideia
de que me apagarei amanhã.