Abrigo
Corria tristonha
nas margens de sonhos
em que um dia nadei.
O corpo sangrento,
calor de momento,
fogos e vento,
fugi, desandei.
E o ar sufocava,
acabava-se a calma
a visão embaçava,
temi, mergulhei.
A água lavava
ferimento e migalha
restante de mim.
Ardia a ferida,
rasgada, incontida,
de fluido escorrendo,
corpo desfalecendo,
pedaço de mim.
Palavra chegava,
não saía da boca
que a pouco gritava.
Palavra saía
do olhar que sofria
com a boca calada.
Palavra escorria
nas gotas dos olhos
unidas ao mar.
Banhadas de lua
as luzes abrilhantavam
as ondas de ir e vir.
E o corpo perdido
na turgidez
e sem abrigo
via-se iluminar.
Pedaço de mim.
Pedaço caído de mim.
Pedaço perdido assim.
As ondas levavam
as partes do todo.
As ondas lavavam
o todo em partes.
Íam sem resgate
sem resistência.
Saudade insensata
a ferida presente.
A região latejava,
sangue incontido,
pressão baixa.
Na noite pesada
o único abrigo
era a vastidão das águas.
Tati Dalat 28/11/13