Fora da vida
Estava escrevendo em vidros com giz de cera,
tentando dizer o que palavras não cobrem,
e mesmo correndo, correndo, nunca alcançava,
sempre preso em minhas próprias armadilhas,
procurando quebrar as dobradiças das portas,
buscando a liberdade entre grades de puro cobre,
tentei fugir, fugir, fugir e nunca me libertei,
agora estou assim vivendo fora da vida,
observando o movimento de cima,
como um espírito vagante sem destino,
porque tudo em que acreditava ruiu sob meus pés,
e por mais que eu lute nada muda,
meus punhos não conseguem mover a pedra do caminho,
estou fora da vida, fora da vida, fora da vida...
Andei me equilibrando em muros de tijolos de areia,
tentando pular os obstáculos com pernas curtas,
e mesmo gritando, gritando, gritando, ninguém me ouviu,
sempre encimesmado em meu silêncio triste,
procurando sorrisos onde somente lágrimas moram,
buscando a fé quando a escuridão apaga todas as velas,
tentei mudar, mudar, mudar e jamais sai do lugar,
agora estou assim vivendo fora da vida,
olhando para horizontes tão distantes,
como um pássaro aprisionado em uma gaiola de dores,
porque minhas angústias se propagam no infinito,
e por mais que eu peça a cura nada cicatriza,
meus pés estão atados no concreto que pesa em minha alma,
estou fora da vida, fora da vida, fora da vida...