PEDRA
Ó pedra, a ti somente,
Posso confiar meus anseios,
A dor arde , e se ressente,
No despertar de meus devaneios
Tu, que és fria, e inquebrável,
Talvez me possas entender,
Te contar minha vida miserável,
Esta triste sina de sofrer...
Só tu me ouvirás, calada,
Contar-te tudo que fora atirei,
Tantas horas gastei para nada,
Os minutos, então, nem sei
Quantos amores tive,
Quantos deixei de ter,
Hoje eu sei que não se vive,
Sem um real bem querer
Mas agora, pedra, é tarde
O tempo eu sei que não volta,
Pois meu coração já se parte,
É a vida que se solta...
E está a se dissolver...
Mas pedra, eu te peço, não contes,
A ninguém este meu padecer...
Ah! O que se passa na mente,
Já ia até me esquecendo...
Pedra não fala, não ouve, não sente,
Talvez eu já esteja enlouquecendo,
Pensando que pedra é gente...
Ray Scott, agosto de 1973