Centrípeta

As curvas delicadas do sorriso

tangenciam a tristeza

vizinha da calçada.

Então eu aborto o sorrir.

Como posso comer sossegada?

se tantos não têm nada pra comer

Como posso roer esse pão?

Saciar indiferente o estômago

se minha consciência está a ganir

pelos que famintos

que são ignorados.

Como posso passar nesse caminho?

Sem ver os que caíram no abismo

Sem ver os que ainda lutam

dependurados na beira

a agarrar com unhas e dentes

a última esperança de vida,

a última sanidade,

o último fôlego que lhes

resta para resistir.

Tantas curvas e retas

num mosaico esquisito

tantos caminhos e frestas

a impregnar nossa alma.

De culpa.

Culpadíssima,

pesada como chumbo.

De dor de ver o mundo.

exatamente como ele é.

Em preto e branco.

Em lágrimas e sangue

Em tropeços e quedas.

Em glórias e esperanças.

E no liquidificador do tempo

e das paisagens

Essas sensações todas misturadas

tingem a alma de furta cor.

Entre a cor da saudade e

da tristeza

encontrei uma fotografia sua.

Na sua curva sorrindo,

a minha preocupação é

centrípeta.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 08/11/2013
Código do texto: T4562730
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