Centrípeta
As curvas delicadas do sorriso
tangenciam a tristeza
vizinha da calçada.
Então eu aborto o sorrir.
Como posso comer sossegada?
se tantos não têm nada pra comer
Como posso roer esse pão?
Saciar indiferente o estômago
se minha consciência está a ganir
pelos que famintos
que são ignorados.
Como posso passar nesse caminho?
Sem ver os que caíram no abismo
Sem ver os que ainda lutam
dependurados na beira
a agarrar com unhas e dentes
a última esperança de vida,
a última sanidade,
o último fôlego que lhes
resta para resistir.
Tantas curvas e retas
num mosaico esquisito
tantos caminhos e frestas
a impregnar nossa alma.
De culpa.
Culpadíssima,
pesada como chumbo.
De dor de ver o mundo.
exatamente como ele é.
Em preto e branco.
Em lágrimas e sangue
Em tropeços e quedas.
Em glórias e esperanças.
E no liquidificador do tempo
e das paisagens
Essas sensações todas misturadas
tingem a alma de furta cor.
Entre a cor da saudade e
da tristeza
encontrei uma fotografia sua.
Na sua curva sorrindo,
a minha preocupação é
centrípeta.