EPITÁFIO
Me deste da tua carne,
Revestiste minha costela
Com teu fruto pútrido
Prescindido de espírito.
Dançaste, corcoveaste
Tua cópula mais aflitiva
E teu pélvis tremulava,
Desfraldando flâmulas.
Plantaste tua bandeira em meu chão...
Daí que me colonizaste
Com o que tens de mais mesquinho.
Conheci toda sorte de dores
Enquanto me cavoucavas,
Extraindo de minhas entranhas
Meus tesouros singelos e naturais.
Ao me desertificares e poluíres,
Levantaste acampamento e partiste,
Deixando em minha pele alquebrada
Os rastos de tua passagem funesta.
Meus olhos quedaram-se embaciados,
Procurando mapas e rosa dos ventos.
Minha arqueologia se perdeu para sempre
E do que era história
Tornei epitáfio cruento cortando a amplidão.