EM CADA GESTO

Olhos baixos, sem nuança,
Alheios ao cotidiano,
Fazendo, desfazendo as tranças,
Da boneca de pano,
Inseparável afeto,
Busca em cada gesto,
Lembranças contidas,
No seu eu criança,
Onde tudo era ternura,
Um encanto de vida.
Ternura perdida,
Na caminhada errante,
Nas vãs entregas,
Na fé cega,
Nas rupturas,
Semeadura de enganos,
Quantos danos!
Habitat da loucura,
Não há muito o que fazer,
A não ser, sobreviver,
Das cândidas lembranças.
Olhos vazios embaçados,
Irreconhecível semblante,
Sonhos nus, despedaçados,
Não é nem sombra do que foi antes.


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UM ACENO

 Descontrolada nos gestos,
já não sabe o que é afeto,
pois foi longa a caminhada,
mil tropeços na estrada,
muitos danos, desenganos,
comédia por baixo dos panos,
ela aos trancos e barrancos,
pra lá e pra cá empurrada.
Consequência inevitável,
fato mais que lamentável,
perdeu-se de si por aí.
Vive num mundo só seu...
Quem passar lhe acene adeus.

(HLuna)