TÃO SÓ

Bem no cantinho de Minas,
Na margem da estrada,
Ela acaricia a sua rotina,
Não sai de casa para nada.

Se entrega ao reverso da alegria,
Ao silêncio enigmático,
Às sombras de cada dia,
Se integra ao sistemático, ao extático.

Alguns que passam em frente,
Àquele canto de simplicidade,
Se perguntam com ar reticente,
Como pode abdicar assim, da liberdade.

Mas, só quem ama com inocência,
E de repente, se vê tão só,
Sabe o que é essa dor, a permanência,
De um indesatável nó.

Só quem dividiu tantos verões,
Com alguém tão querido,
Não tece indagações,
Compreende seu olhar recolhido.

E só o tempo irá dizer,
Até quando ficará dessa maneira,
Talvez, a vida inteira,
Talvez, até por si, perceber,

Que a sua alma pertenceu,
A alguém que não mereceu,
...
Ou talvez, não suporte o corte,
E antecipe a sua morte.