Vai ser assim
este silêncio sem fim,
até esquecer de mim,
na palavra não proferida,
desperdiçada e perdida.
Nenhuma palavra que saia de mim,
que não seja palavra assim esvaziada
e prenhe de uma certa emoção havida.

Vai ser assim
essa tristeza imensa
de uma solidão tão intensa,
doer até não mais pensar em mim,
até morrer enfim a vontade pretensa
que não pede licença e vem morar em mim.

Vai se assim
sempre este amor que chega ao fim
ou se perde totalmente de mim,
de tudo talvez que haja na vida,
este amor que nasceu gritando,
para tornar-se palavra esquecida
ou dessas coisas mortas em mim,
coisa dessa mais vivida do que sentida.

Vai ser assim
errar o passo e perder o rumo
nisto que nunca foi caminhada,
nesta não trilhada estrada.
Tudo coisa não realizada...

Vai ser assim
aos poucos e de repente
que esquecerá de mim.
Não passará mais por esta rua,
não olhará a porta nem a janela,
não perceberá a luz acesa,
a música alta ou algo que lhe falta.
Não buscará entre as cartas o meu nome
e num momento fortuito que seja, distraidamente
nem sonhará pensar em mim.

Vai ser assim
esquecerá o meu rosto, o meu nome, minha voz,
esquecerá este tudo tão pouco entre nós,
esquecerá minha história fincada na sua
e na sua história nem haverá rastro de mim.

Vai ser assim
esquecerá os dizeres de minha lápide,
o endereço provável de meu túmulo,
aquele sem flores nem visita (acho ótimo!)
esquecerá que estive por esta vida
e nem saberá que morri
sem mais nem menos assim
do jeito que vai ser
tanta vida que nunca foi em mim..
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 20/10/2013
Reeditado em 06/02/2021
Código do texto: T4533734
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.