RAMEIRA
Passos amplos, pés em delineios,
Lúcida e dissimulada,
Fêmea em felina, se transfigura,
Meneios, e se perde a compostura!
Quadris largos e fartos seios,
Lábios vastos e pele escura,
Vestes de gentil textura!
Transes em sal brilhante,
Sereno mel de louvores,
Zênite da formosura!
Em cantos e antros,
Lares santos e bordéis,
Vasto mundo sem face,
Vidinha, cem mil réis!
Plateia encarnada,
Ébrios indolentes,
Inocência martirizada!
Moça que fostes, agora fornida de amores
Tórridos, lúdicos, profanos, bestiais.
Em leito embriagado, entre risos e gemidos,
A vida passa encenada, apagada, esvaziada!