do meu saco de gritos...

enxuga as tuas palavras...

refaz o teu barquinho-papel marché...

e abaixa o teu volume.

as tuas palavras chegam aos meus ouvidos a tresandar mágoas...

e ecoam-me desespero... e calam-me.

fico perplexa a fitar-te de longe...

à procura de um menino bom... inocente...

que, eu sei... anda com medo do escuro.

segura a minha mão... silencia um pouco.

o teu brado...

espanta as nossas poucas borboletas azuis.

aquelas... da nossa infância de um dia desses.

e sapateias! e queres dançar a tua loucura...

num ritmo que eu não consigo acompanhar-te.

ando devagar ultimamente...

em passos curtinhos e gritos todos guardados.

tenho eu um saco de papel marché...

cheio de gritos... todos meus.

e hei de transformá-lo num barquinho...

num dia desses qualquer...

e deixá-lo ir para bem longe...

nas águas-poças das mágoas minhas...

nunca os darei a ti.

haja que a mira do eco dos gritos meus... não és tu.

e tudo está terminado.

dança comigo devagar, então...

em passos curtinhos e ruidos baixinhos...

lamentos apenas nossos... quem importa-se?

e os passinhos curtos dos meus pés cansados...

são muito fáceis... nem carece esforço...

são dois para um lado............... dois para o outro.

num pequeno espaço...

e sem espaço para o tempo.

karla mello

11 de outubro de 2013

Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 11/10/2013
Reeditado em 11/10/2013
Código do texto: T4520752
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