Suicídio de um poeta

Olhos lúgubres que carregam dores profundas. Um andar sombrio que simboliza a canseira moribunda, rumando ao pôr-do-sol dos que já estão mortos. Caminho triste, desolado, por tempos que parecem à eternidade. Nódoas terríveis se fizeram em minha alma desolada; Pústulas cresceram em meu jardim, e as flores morreram com o fim da alvorada. A aurora morta foge, e em si levou a luz consoladora, deixou-me na frialdade dos horrores, e a noite vem silenciosa, ludibriosa, dar vida aos meus temores. Revestido pelo manto negro, o sórdido silêncio fatal, ferindo meus ouvidos num ritmo entristecido, mergulha-me na paz funérea da noite sepulcral.

Anjos ainda permeiam os caminhos de minha vida, são pequenos pirilampos que brilham na profunda escuridão; Alguns já se apagaram, outros ainda vivem, outros ainda virão, e todos sempre tentando tirar um sorriso de minha face malsão. Agradeço-os pelas suas doces existências, seres de luz que lutam para que eu não perca a essência do pouco de vida que ainda existe em mim. Mas como tudo nesta vida passa, eu, poeta sombrio, ei de seguir sozinho na solidão que é meu destino. Sigo de coração confiante, cravado em meu peito vossas doces lembranças que tivemos neste mundo horrível. Sinto que cheguei à minha estrada final. O calvário já aponta no horizonte, e poderei retornar para a essência de minha fonte, só quero descansar para todo o sempre.

O sangue cravou em meus caminhos, pegadas tristes que ficarão, e todos vão lembrar pelas nódoas rubras que deixei, que ali passou o ser mais triste que já imaginaram. Morre-me a voz amigos. Morre. Morre-me os sentidos paulatinamente. Morre. A navalha chia tristemente na pele carcomida. O escarlate intenso do sangue se faz concretizar o destino que me foi confiado: o de suicidar-se. De dor, por entre a dolorosa ferida, eu balbucio, trêmulo, rangendo os dentes num profundo e doloso tormento. Depois, como um beijo que me consola, uma voz soluça na memória, suave como a sinfonia dos pássaros quando cai a aurora, e dos lábios misteriosos da morte cai um beijo. Bendita seja a morte! A minha vida se fez nos últimos instantes em que eu expirava. O pescoço rubro, aberto feito uma boca disforme grita seu pesar para o mundo que dorme, acordando-o para mais um triste funeral. Morri sozinho, porém risonho, fitando a nebulosa dos meus sonhos e a Via-Láctea da ilusão das lembranças.

Os pássaros cantam em despedida. O vendo lamuria a cântico sepulcral. Lá se vai mais uma alma atormentada repousar no manto misterioso em que se oculta à morte...

Nishi Joichiro
Enviado por Nishi Joichiro em 08/10/2013
Reeditado em 30/01/2014
Código do texto: T4516937
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