FRAGMENTOS

Indiferente aos latidos,
Aos mistérios da madrugada,
Exibe o seu corpo sofrido,
A sua alma fragmentada.

No auge dos dezessete anos,
Aparentava ter mais,
Não há quem resista os danos,
De entregas tão desiguais,

Ela desejou uma vida assim,
Talvez, alguém diga,
Não passa de um vaso ruim,
De massa que não dá liga.

Mas, só aquele ser em fragmentos,
Sabe o que passa em seu interior,
Desde menina seu corpo foi alimento,
De um incontrolável genitor.

Só aquele olhar de inconstância,
Conhece o absurdo da maldade,
Sabe que é perder a infância,
Escondida nas entrelinhas da cidade.

Só quem foi lançada à margem da vida,
Sabe o que é ter que se vender,
O quanto incomoda, sangra a ferida.
E não há muito que fazer.

Com essa condição lamentável,
A não ser fingir que está tudo bem,
Dizer: - amém! e tolerar o intolerável,
O cliente que ainda vem.