O martírio
Imerso na solidão do claustro,
Me atinge o punhal de minhas amarguras,
Percebo que triste e também incauto,
Acabo me privando das bençãos futuras.
Amargo o licor de minha juventude,
Que se esvai entre os abismos do quarto profundo,
Onde a tristeza em sua plenitude,
Me cala e me cega diante do mundo.
Castigam-me os sonhos a muito negados,
Avançam-me com garras todas as feras,
Dilaceram essa alma de ingênuos pecados,
Devoram-me inteiro com minhas quimeras.
Avante ao tombo quase certo,
A espreita, a morte e o julgamento,
Tantos demônios me olham de perto,
Minha alma lhes serve de pagamento.
Acordo de um sonho deveras pesado,
Nenhum santo ou anjo ouve meu apelo,
Continuo inerte, continuo entrevado,
Escravo eterno desse pesadelo.