A Dor dos Outros

Uma dor alheia,

sombria,

digna de ser sofrida

pode ser negada?

Uma dor estranha,

alienígena,

distante e insegura,

deve ser evitada?

Eu as quero.

As estranhas e alheias dores,

abundantes, replicantes,

morbidamente fascinantes,

sublimes em suas frias cores.

Eu as venero.

Eu não quero discriminação.

Se você é só,

quero sua solidão.

Se você é pó,

deixe-me empoeirar.

Quero simpatizar,

Compartilhar,

Sem dó.

Estamos no mesmo

mundo.

Sua dor é minha dor

num segundo.

Nas rápidas ondas

da mídia,

seu apelo suicida

é parte do todo,

toca minha vida

e eu me importo.

Eu sofro.

Sua lápide

decora minha

noite morta.

Minha nota,

sua nota,

uma mesma canção,

desafinada.

Um réquiem,

uma lágrima.

Uma emoção

desajeitada,

imprópria e

censurada

pela escória.

07/12/04