DE REPENTE A SAUDADE
(Sócrates Di Lima)
Embriona-me a noite em vultos,
Ectoplasmas em meus sonhos,
Por vezes causa-me tumultuos,
Outras pesadelos medonhos.
Desassossego da alma em desalinho,
Que voa feito pássaro inquieto,
Na escuridão do céu, sozinho,
Perdido feito folha seca no deserto.
Já não ouço os gemidos da saudade,
Mas ouço-a gemer pelos vitrais,
Em ventos revoltos e sem identidade,
Batendo ás janelas pelos quintais.
De repente a saudade,
De um tempo de felicidade,
Que fez-se em mim uma doce mocidade,
Um amor estrondoso na sua infinidade.
De repente....
O silencio minh´alma esvazia,
Mistura ás águas de um setembro quente,
Inundando os lagos que o coração partia.
Olhos acegados só vêem o silêncio da noite escura,
Sem cânticos as vozes se fazem surdas,
Sem sorriso os lábios mordidos e sem cura,
Tremem no sal das lágrimas mudas.
Sem os olhos da poesia, há Luas sem clarões,
Amanhecido o Sol sem raios,
Sentindo Estrelas por ilusões,
E ai vem a tristeza em balaios.
E quando os olhos tentaram ver,
Não enxergaram além suas iris,
E as cores que os faziam ver,
Se perderam e decoloriam o arco-íris.
De repente o peito aperta,
Arrocha, sufoca, e o coração esperneia,
E a voz rouca do poeta,
Jã não mais grita no prazer que o silencio cerceia.
E então, olha perdido o horizonte,
Lá nada mais se pode ver,
A retina opaca no lusco-fusco punumbrante,
Tira do peito a vontade do viver....
E explode á ânsia da saudade,
Na dor que invade e rasga feito faca,
Tocha de fogo na pira da alma em alarde,
Bate a saudade feito pontiaguda estaca.
E a alma chora,
Pervertida e profana,
A vida parece que sai embora,
Esvaziando a antiga alma humana.
De repente o coração transborda,
E o leito do seu lago se faz insuficiente,
E pelas vermelhas bordas,
Os olhos derramam ás águas da nascente.
De repente fugiu a alegria,
De repente se perdeu a fantasia
De repente a saudade grita em agonia....
E a alma chora, pela dor, da perda da poesia.
....da alegria, que era de todo o dia!