Desabafo de uma alma triste
Como uma fada que perdeu seu bosque
e seu duende também
Como um funâmbulo francês, suspenso no ar,
equilibrando-se entre duas torres
Como se voasse nas asas negras da ave-do-paraíso
seguindo a seta de luz da solidão
Como saltar na glória de espumas de um redemoinho
e ser tragada pela correnteza de um rio
Eu acredito nas divindades e nas deidades
mas de que me serve crer?
Posso colocar no meu domínio
um exercito deles a me servir
Annur, a deusa da abundância
Balor, o terrível demônio da morte
Ou contratar São Patrício, senhor das cobras
para expulsar todos eles.
Valho-me, por vezes, de uns deusinhos
para tarefas domésticas, enfadonhas,
pequenos seres que realizam desejos pela metade
e deixam-me a sensação de incompletude
É assim que me descubro neste instante:
Rodando num redemoinho de inquietações,
cercada de mil tentações endiabradas,
vendo apenas uma luz sem final
Deixo-me levar então pelo rio
pois rio é hipótese de fim.
Nascemos, ganhamos corpo
e acabamos dissolutos no mar da morte