Súplica

Acredite, leitor, há um grande significado dentro deste poema. Se não entendê-lo, dê um toque que terei em prazer de explicá-lo, e assim terei certeza que o verá com outros olhos

"Subalterno

dos meus desejos infundados

pelas dádivas d'uma vida soberba,

Esqueço-me de viver o que ainda

não me é tristeza. A música

ainda que bucólica me há trazido

a esperança a alma, fraquejada.

E o que me resta no inferno —

Lâmina enferrujada por um tempo apagado,

Deixada efêmera por entre linhas tortas,

me é vida. Desfrutei-me dum sonho desatado,

Avivei a murcha pétala,

violentada por um inverno desgraçado,

Que acendeu-me alma e coração.

Me veio a primavera dos desabrochares,

Dancei por entre flores e espinhos, e assim morri.

Morri desta fartura de desejos e ternuras. Desejei...

Mas o verão queimou o que ainda havia restado.

Estive sonhando e vivi,

Agora sou lúcido e estou morto.

Ou serás melancolia passageira,

que a nós vem sem pedir licença,

E desabrochara-me as tantas emoções,

Sendo a razão das insônias e dos serões?

O vento agora me traria conforto,

conforto assassinado pelos livros de história

mas que foi barrado pela mesma paisagem,

em ruínas de escória e glória...

Morri afogado, no seco deserto rumo à Meca.

Dos horizontes que não vejo mais, algo vem

trazendo a murcha pétala que ainda suplica.

vai e vem... E vejo, também sou murcha pétala,

Suplico que ames, não amor.

Suplico perdão, mesmo que não o mereça.

Desatei a súplica de manter acesa a vela.

Suplico por vida, mesmo que antes,

Suplicara eu por silêncio...

Sim, rogo por muito, rogo por tudo

Não me venha dizer que é demais,

Que quero o que não me faz juízo e

Nem que o melhor é o limitado ofício;

Imploro e luto, construo e sonho,

Frente à isso não me diga que quero muito

Não me diga que não sou capaz.

Diga-me que minh'alma ainda é jovem, e mesmo que

inexistente, é forte; e que o que quero,

mesmo que seja o mundo, é à altura deste zero,

que sou para com a vida e morte.

Nada senão um suplício moribundo

Um desejo inconformado: medo, ilusão — religião.

Sou nada além de histórias e cantigas,

Faço-me assim crer ser tudo, absoluto, mentiras.

À parte disto, suplico à razão. "

Daniel Reis
Enviado por Daniel Reis em 11/09/2013
Reeditado em 02/06/2015
Código do texto: T4477180
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