O MEU MANTO DE SOLIDÃO

Estou-me a fechar, sinto em mim próprio uma premente reclusão

O meu manto de solidão

Só, com a companhia da inseparável escrita e da Internet que me faz navegar

Por locais gentes e pessoas que eu nunca irei visitar

Para estas ocasiões tenho sempre uma história negra para continuar

Dum futuro sem sol, pois no presente ninguém me quer acompanhar

Nesta estrada que leva ao infinito, construo o meu mito

No qual nem eu próprio acredito

Amando sozinho e aprendendo assim a estar

Porque amo sem que ninguém queira ou me possa amar

Devorando livros também negros onde não habita a felicidade

Ciclo que se fecha sobre a minha própria interioridade

Que está ferida

De vergonha por ter aborrecido gente amiga

Sem me aperceber,

Mas agora que estou lúcido volto para o meu canto, onde ninguém me possa sentir, ninguém me possa ver

É nestas alturas que saem de mim as tais lágrimas negras

Que eu derramo sem me aperceber se elas valem realmente a pena…

E eu já não sei se sei se tenho ou não a minha inquebrantável esperança

Sonho por dias melhores de boa aventurança

Experimento abrir uma janela e gritar alto para alguém me ouvir, mesmo sem querer

Mas vivo entre prédios onde nem sequer o eco me pode responder

A janela que abro também é para a imensidão

Mas dela só vem frio, e eu sinto tanto a falta do calor do verão…

A poesia fica mais triste, mais lúgubre, mais anti-social, mais introspectiva

Pois eu não consigo ver ou sentir perto ou longe de mim gente amiga…