Estátuas de bronze

Ouço as crianças jogando bola ao redor do lago,

driblando o gramado e as pedrinhas do caminho,

parecem tão felizes fazendo sua bagunça juvenil,

vejo seus pais sorrindo com aquelas estrepulias,

acenando para a garotada com orgulho e alegria,

parecem tão realizados com suas famílias,

enquanto leio meu jornal e penso em nossa solidão,

em tudo que poderíamos ser juntos e jamais fomos,

em todos os medos e ressentimentos que nos afastaram,

quanto tempo se passou sem que lutassemos por nós dois,

quantos desejos se perderam entre as nossas frustrações,

quantas brigas silenciosas tivemos sem que nos entendessemos,

quantos sonhos deixaram de ter sentido ao amanhecer,

parecemos tão mais velhos do que somos,

ficamos tão mais tristes do que deveríamos,

viramos estátuas de bronze em um canteiro de obras,

imóveis, impassíveis, indiferentes ao nosso próprio desmoronar,

achando que tudo terminaria logo sem grandes danos colaterais,

e no final o que nos restou foram lágrimas de saudade...