Asas de Mágoas
Não sou nenhum anjo…
Essas asas que vês?
São asas das mágoas todas… minhas…
Juntei pena por pena…
E paguei-as todas!
E com elas…
Aprendi a voar!
Não devo a ti coisa alguma…
Aliás… Devo sim!
Esse meu mau jeito de sentar-me na vida!
E de gargalhar diante dos meus medos todos!
Devo a ti o traço e o tom.
Sem o regaço do teu colo…
Este? … Ficou lá atrás…
Nas fotografias.
Tento equacionar entre o mau jeito e o regaço pouco:
Não sobra tanto assim.
Algo de bom… Palpável, percebes?
Escapa-me como água do regato que busco sempre.
Refresco-me e banho-me a minha face cansada
No regato que formam as lágrimas todas… Tantas!
Cansada… Tu me cansas!
Canso-me de chorar o que nunca teria jeito algum!
Porque senta-te de mau jeito em tudo!
E também eu sento-me!
E não assentamos nada uma com o outro.
Não… Nem sempre vôo longe.
As asas pesam-me… Duras penas!
Difícil demais pousar à tua volta… De volta.
Pois que estás sempre tão mal acompanhado!
E estas asas enormes que tens!
Das tantas penas alheias!
Tu as causaste!
E ainda as tuas duras penas!
E coleciona-as… E são os teus troféus!
Qualquer coisa assim que eu não compreendo...
Escapa-me! …
Escapa-me do meu entendimento!
Eu quero apenas alguma coisa que valha!
Um resto de ternura… Um afago!
Quero muito pousar em ti…
Mas ouço as tuas risadas na tua antessala!
E olho-te de soslaio e continuas mal sentado!
Ao chão! Estás ao chão!
E não queres levantar-te.
Não sou nenhum anjo…
Não tenho qualquer vocação para anjo!
Mas posso balançar as minhas asas de mágoas!
Penas cumpridas! Todas!
E fazer ventania de amores sobre as tuas dores.
E arriscar mais uma vez a pedir-te o regaço do teu colo…
Ando mesmo assim… Sem vergonha!
Sem tempo para isso!
Sem tempo para quase mais nada.
Sem tempo para remontar as penas...
Para que fossem alvinhas… E leves como o algodão!
Nuvenzinhas!...
Mas sempre chove muito… Torrencialmente!
Em nosso grande quintal de outrora...
Em nosso pouco quintal de agora.
Karla Mello
05 de Setembro de 2013