O Choro de Persefone
Do meu trono imundo eu assisto o Elísio...
Meus dedos tremem. Maldição.
Já ouvi o canto de cada corvo do mundo humano
Já ouvi a melodia de Orfeu, e o rosnar do Cérbero
E agora estou eu aqui, inutilizada, sob o comando do imperador dos mortos.
Oh, que grandioso título! Não és rei do Sol, e muito menos das grandiosas águas
Não és tu o deus dos céus, e nem o deus do amor. Nem sequer vives no Olimpo
Seus olhos são cegos, suas mãos são atrofiadas.
Você é como cada alma que vaga pelo Aqueronte, vazio e triste.
Mas eu, sou a deusa da primavera, aqueço o coração de cada humano
Sou cobiçada entre humanos e deuses, entre heróis e semi-deuses
Até mesmo os animais cantam em meu nome, Gaia tem amor a mim
E ainda assim, estou sob o calço dos seus pés.
Em meio a tanta tristeza, vejo o sorriso mais belo, partir dos mais belos lábios entre os humanos
Seu rosto, mais formoso até mesmo que o de Apolo
E seus cabelos encaracolados tiram-me a razão
Mas a perfeição de Adônis não me foi concedida
Pois uma vez divida, o tenho apenas por partes
Maldita seja também Afrodite, que de tantos humanos
Fora escolher meu amado.
No inverno de minha alma, caminho com penúra e dor
Por cada pedaço do mundo inferior, aguardando a chegada da primavera
No fundo da minha alma obscura, em meio a tanta amargura
Um facho de luz conduz o sentimento
De que depois de tanto tormento
Haverá paz para a mais bela das deusas.