Asas podadas

Tanto tempo invisível na paisagem de um deserto,

como uma sombra oculta nos blocos de concreto,

sendo o silêncio que precede o barulho proibido,

tateando no escuro por algum reconhecimento,

vagando como um fantasma sem iluminação...

Tanto tempo aprisionado numa gaiola de tormentos,

como um pássaro agonizante em seus movimentos,

batendo-se contra grades claustrofóbicas,

bicando a fechadura em busca de liberdade,

voando com asas podadas em um espaço de melancolia...

Tanto tempo aguardando um simples telefonema,

como um viciado angustiando por sua dose diária,

abstendo-se de tudo que poderia lhe salvar a alma,

clamando por alguma fé em meio à tanta desolação,

arrastando-se sobre os escombros de sua própria vida...

Tanto tempo convivendo com meus medos,

como um esquizofrênico em crise temendo vozes imaginárias,

dopando-me em esquecimentos anti-depressivos,

estreitando os olhos em busca de um caminho de fuga,

acorrentando-me aos meus erros nunca perdoados...