Desolação

Á cada dia mais me vejo desaparecer,

já sem um sentido, sem um propósito,

apenas sigo como um rio mantendo seu curso,

na monotonia do tempo, nas entempéries dos dias,

tudo continua como sempre tem sido,

pessoas saindo bem cedo para seus trabalhos,

rotinas de todos e de cada um no fluxo da vida,

meus sentimentos tão apagados somem dentro de mim,

e tudo parece tão sem vida e sem razão para minha existência,

momentos cinza, paisagens de concreto armado,

nem mais as lágrimas têm me visitado,

me sento diante de um abismo e ouço seu chamado,

espero talvez a hora de me lançar ao infinito,

e terminar com o que sequer chegou a começar,

pôr um ponto final nessa solidão melancólica que me acompanha,

cessar essa dor de não pertencer à nada ou à lugar algum,

esquecer eternamente essa sobrevivência como um errante,

deixar para trás aqueles para quem nada signifiquei,

me tornar o pássaro que sempre quis ser,

voar por colinas sem preocupações humanas,

não sentir mais nada que eu não possa controlar,

apenas flanar pelo vento do destino sem rumo,

tendo o horizonte como mediação...