Negros de Barco
Ai minha terra!
Querida mãe,
Adeus. Navegar vou
Em mares desconhecidos.
Fui arrancado do seio
Da minha cultura.
Pra viajar no
Desconhecido.
Navio negreiro
Que agora me embalas
Aonde me levas?
Mar azul e agitado
Por que move-ses
Tanto? Será assim
Minha vida?
Estou no navio
Que o velho Castros
Falou. Acredite.
Aqui dentro é bem pior...
Saí, fui vendido,
Jogado, fui pra senzala
E pro tronco. A roupa, não tenho.
Ficou lá no tronco.
No engenho fui moinho,
No cafezal, agricultor.
Fizeram-me bicho,
E esqueceram quem sou.
Quem trouxe o frevo
O maracatu, Afoxé!
Foi nas tristes senzalas
Que joguei capoeira.
Sou o negro filho de
Manman Lafrik di.
am nwa a
bagay ki sèvi m 'nan ki
yo pi plis pase kilti san
(Mamãe, África.
Sou o negro
Que em meus vasos
correm mais cultura que sangue).