Agora em diante

Sou como a raposa enjaulada que gira à volta de si mesma

ensurdecida e muda por seus próprios gritos,

numa constância ininterrupta de uivos e gemidos engasgados.

Sou como o pardal ferido num rodopio itinerante e mortal rumo ao chão,

que de tanto esperado nunca chega,tentando respirar na infinita queda,

sufocado em tanto ar, tanto espaço.

Sou como a orca arpoada na imensidão de um mar azul intenso

manchado em rubro e negro de seu sangue, debatendo-se abrupta, incansavelmente

sob e sobre as ondas enfurecidas agravando consciente sua dor, sua ferida.

Sou como o camaleão perdido rastejando entre cinzas, chamas e fumaça

de um outrora verde florescido e perfumado, contorcendo-se na inconformidade

da realidade algoz, dilacerado nas lembranças vãs, inevitáveis,

em seu torpor caótico até o fatídico fim.

Sou como o mal enraizado no coração dos tolos que só pensam em si,

definhando-lhes as entranhas de seus egoísmos exacerbados por seus egos deturpados

em seus corpos despidos de quaisquer valores espirituais.

Sou esse vazio incessante e irremediável que tomou todo meu peito e minha alma,

num vácuo de todas as emoções deflagradas por ti.

Sou pretérito imperfeito.

Sou pronome indefinido.

Sou todas as palavras tristes e toda dor que de agora em diante hei de sentir

até que te encontre novamente.

Júlio Amorim
Enviado por Júlio Amorim em 18/08/2013
Código do texto: T4439960
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