Agora em diante
Sou como a raposa enjaulada que gira à volta de si mesma
ensurdecida e muda por seus próprios gritos,
numa constância ininterrupta de uivos e gemidos engasgados.
Sou como o pardal ferido num rodopio itinerante e mortal rumo ao chão,
que de tanto esperado nunca chega,tentando respirar na infinita queda,
sufocado em tanto ar, tanto espaço.
Sou como a orca arpoada na imensidão de um mar azul intenso
manchado em rubro e negro de seu sangue, debatendo-se abrupta, incansavelmente
sob e sobre as ondas enfurecidas agravando consciente sua dor, sua ferida.
Sou como o camaleão perdido rastejando entre cinzas, chamas e fumaça
de um outrora verde florescido e perfumado, contorcendo-se na inconformidade
da realidade algoz, dilacerado nas lembranças vãs, inevitáveis,
em seu torpor caótico até o fatídico fim.
Sou como o mal enraizado no coração dos tolos que só pensam em si,
definhando-lhes as entranhas de seus egoísmos exacerbados por seus egos deturpados
em seus corpos despidos de quaisquer valores espirituais.
Sou esse vazio incessante e irremediável que tomou todo meu peito e minha alma,
num vácuo de todas as emoções deflagradas por ti.
Sou pretérito imperfeito.
Sou pronome indefinido.
Sou todas as palavras tristes e toda dor que de agora em diante hei de sentir
até que te encontre novamente.