Gotas silenciosas de dúvidas
De minha janela, observo a silenciosa ação gravitacional.
Gotas do meu telhado caem.
Pouco espessas e discretas gotas,
rompendo a dantesca massa de ar.
Atingem o chão.
A seca terra absorve todas suas infindáveis partículas.
Tudo se resume ao incoerente seco molhado,
de início de verão chuvoso.
Não formam poça.
Logo ali, sob a ação do imperdoável astro,
não haverá mais sinais de umidade.
Porém, talvez por alegria, venha a terra sorrir.
Nascerão ali flores,
adornadas de verde manso, delicado?
Não sei.
Deveria esperar para ver.
Seria a chance, de assim como a terra, minha face também experimentar da alegria.
Acontece que disperso e sozinho,
quieto e restrito à minha literatura,
talvez não torne a atentar para tais detalhes.
Ou quem sabe, quando o faça,
tudo ali já esteja morto,
seco e novamente sem vida.
Somente então quando tornar a neblina,
é provável que eu novamente me prenda às gotículas esparsas que rompem verticalmente esse cenário de indagações particular.
Farei, então, as mesmas perguntas,
terei as mesmas dúvidas,
e criarei a certeza de que, em vida, minhas dúvidas nunca serão respondidas.