AD AUGUSTA PER ANGUSTA
A noite da angústia renasceu,
Voltou com força mais intensa
Abalou o Cristo, o Coliseu,
Abalou toda fé e crença
E o céu tornou-se mais escuro
Igualou-se à cor da minha alma
Destruiu os planos do futuro,
A perspectiva da vida calma.
E a dor com suas espadas de gelo,
Namorada, noiva, amiga minha
Me faz gritar em apelo
A quem possa ser meu guia
E a bela lua dos amantes
Apagou a minha veleidade
Apagou-me, fez-me retirante
Da tristeza que comigo comparte
O combate, a batalha final,
O ataque do tédio carnal
E a fúria no fundo dos olhos
Profundos, de azul infernal
A noite da angústia se arrasta
Tragando-me pouco-a-pouco
Enfia meu nome da pasta
Dos que sofrem de amor louco
Louco como a glória dos deuses
Louco como o sangue do capeta
Louco como um monte de fezes
Louco como essa caneta
Que escreve, me marca, me mata
E eis que o morto vivo compõe
Uma ópera em plena madrugada
Por que a angústia lhe mói.
A noite da angústia renasceu
Voltou com força mais intensa
Tragou você e eu
Me fez pequena e imensa