Inteiras só as palavras
Nada me retêm, nada me segura.
A pele não contém a alma que em contraponto, escorre
nas vastas águas, fontanários. De outras águas.
Hoje queria-te aqui
e tu não estás. Não estás quando a Lua vai embora
Quando o Sol insiste em me acordar
Quando o mar grande é gemido aprofundado
na caverna letárgica dos sentidos.
E quando pássaros melopeiam trinados (des)afinados
aos meus doridos ouvidos. Povoam-me impunes os silêncios.
Oiço-te os passos – laços e ao mesmo tempo, lentos e comprimidos,
aos meus sempre colados. Adjacentes, ausentes e tão presentes.
Só. Sinto-me só. Vagabunda d’alma, arejo do próprio vento.
Perdida na brisa do teu lamento.
Perdida de mim, num qualquer momento … perdida de ti,
nos passos avessos que dou fora de mim.
Não sei quem sou
Não sei se existo
Não sei sequer se este cheiro permanente
a sangue coalhado a quente,
estas feridas internas que não estancam, sangram
cisternas profundas a ecoarem no vazio absoluto,
esta pele violácea, na cor do luto,
esta salinidade a escorrer-me nas entranhas,
são verdadeiras.
Inteiras só as palavras.
As que escrevo alinhavadas, na noite das minhas madrugadas.