Lágrima negra
O rímel deixou tua lágrima negra
A escorrer em tua face alva
E, perto da boca, enfim
Encontrou o cais das tristezas
Que náufraga em saliva
Produziu o silêncio misterioso
Que só da dor faz.
As tuas palavras não ditas
Ecoavam pelos olhos
Escorriam pelos olhos
Pedintes de afeto
E de atenção.
Eu te doei meus olhos.
Eu te doei minhas mãos.
Mas te neguei minha alma.
Pois já havia a perdido
No labirinto de mim mesma.
Esse torvelinho de tempo
E lembranças
De flashes entrecortados
pelos raios de sol.
Pela paisagem tridimensional.
Não há mais tempo agora.
Soou todas as badaladas.
A carruagem-abóbora
Conduzida por ratos
Nos leva até a ratoeira
Laboriosa que nos mata,
Mas no seduz.
Tudo é o queijo cheiroso
Que atrai minha fome.
Tudo é o desejo pecaminoso
Que atrai minha carne.
Mas, não tenho mais
nem fome e nem carne.
Nem lembranças ou vaidade.
Tenho apenas a mancha
Deixada no lenço de
choro de rímel.
E a vaga certeza que
olhos sabem mais verdades
que a boca.