Desamparada
Segure este pedaço de madeira,
segure-o enquanto você é abusada;
segure-o fortemente, não o solte,
enquanto você é cruelmente banalizada:
e, assim, seja desamparada!
Assista seu desamparo em mais nítida cor.
Pedes por socorro,
mas ele não vem.
Imploras por ajuda,
mas ele não aparece.
Este pedaço de madeira ou metal,
em que você tanto confia,
sem vida ele é; confiaste nele,
mas ele a decepcionou, abandonou-a.
Gritaste em desespero,
clamaste por misericórdia,
esbravejaste por piedade,
em pânico e terror gritaste pelo alto;
você chorou aos céus por uma retribuição
das velas acendidas e incensos queimados,
mas foi o sadismo que a ouviu,
foi ele quem atendeu seu gemido.
Não tinha quem a ouvisse
e, logo, fora despedaçada.
Por garras maiores fora rasgada.
Esmiuçada, penetrada fora
mais-que-por-um, antes mesmo
que qualquer outro pudesse ouvi-la.
Agarre-se neste pedaço inútil,
e não seja ouvida!
Grite mais alto, brade mais forte,
talvez Genézio tenha viajado!
Ele não tem ouvidos,
nem boca, ou olhos,
ele não tem vida, não tem nada!
Seguraste este xis de madeira,
como que com alguém morto pendurado,
confiara nele; amou-o, mas ele a odiou.
Suas velas foram em vão,
e seus incensos, inúteis.
Ele não se lembrou de seus sacrifícios,
tampouco de seu andar de joelhos
pelas mil escadarias acima.
Suas aves e suas marias não foram contadas,
e seu cilício desvalorizado.
Onde estão, pois, suas audiências?
Segurara este crucifixo morto e inútil,
confiaste nele. Seus grilhões
eram sua surdez e mudez,
ele não poderia se expressar.
Creste nele,
e agora esta morta.
Acreditou em sua mudez,
mas agora está esmiuçada.
Esperou nele, mas antes mesmo
já fora desamparada.
Suas mortes não foram sepultadas,
tanto a sua quanto a dele.
Você o amou, prestigiou este ídolo,
e agora está morta, condenada.
Idolatrou sua imagem, seu redentor morto,
e agora está desesperada, fora desesperançada.
Pois, visto que não confiou
no único DEUS verdadeiro,
foste despedaçada como pequena
perante muitos bois, por uma multidão de monstros.
E agora está morta eternamente,
para sempre condenada,
sendo que não és inocente de sua abominação.
Cesare Turazzi, em tudo capacitado pelo Altíssimo.
[20/07/13]